07/01/2014

Puma Kit

Os kits para fazer um Puma rugir como um tigre

Por - Andre Fiori - 08 ago, 2012 - 14:28
Quem hoje olha catálogos internéticos de marcas como Edelbrock, Crower e outras sonhando em quão mais interessante ficaria seu carro original com tais peças – e o quanto a lei brasileira dificulta modificações – pode não estar atento à história daqui, pois também tivemos peças de preparação prontas para montar e que melhoravam o desempenho de um VW refrigerado a ar. Principalmente se ele estivesse em um Puma.
A linha Pumakit, desenvolvida pelo próprio fabricante em operação conjunta de seus departamentos técnico e de competição, foi lançada no início da década de 1970 e consistia em uma série de componentes especialmente desenvolvidos para serem montados no lugar das originais em operações simples.
Além de maior potência, também tinham a previsão de manter a durabilidade e a qualidade de funcionamento do boxer como os originais. Essa iniciativa nacional não é muito diferente daquela que se vê, por exemplo, na Okrasa, firma alemã que posteriormente seria conhecida por Oettinger, sendo que essa chega a trabalhar junto com a Volkswagen durante o desenvolvimento de novos modelos.
O propulsor de um besouro podia ganhar, além de óbvios kits de carburador e comando de válvulas, peças para aumento de cilindrada como pistões e virabrequins maiores que os originais, mais pequenos detalhes como válvulas especiais e seus implementos, cabeçotes especiais e peças de transmissão que permitiam mudar as relações de marcha e assim aproveitar melhor a maior força. Para preservar o conjunto, os catálogos também ofereciam bombas de óleo melhoradas e cárteres secos. Assentando melhor essa força no chão, o kit de catraca da suspensão dianteira permitia abaixar os facões dianteiros, tipo esse de peça que sobreviveria ao fim da própria Puma.
Além de fazer andar mais, as peças, com garantia do fabricante, também prometiam melhor consumo de gasolina. Caso um kit de dupla carburação fosse adaptado a um motor 1300, a Puma prometia que iria fazer “seu Fusquinha andar como Fuscão”, igualando-se em desempenho ao 1500, mas bebendo menos.
No catálogo, prometia-se um 0 a 100 km/h em 23,8 s para o “tigrão” que levasse as peças, contra 23,7 s do Fuscão original, com o consumo a 80 km/h no nível do mar caindo de 12 para 13,5 km/l, contra os 10 km/l do besouro com motor maior. A potência bruta ia para os mesmos 52 hp do personagem do famoso sucesso de Almir Rogério, ocorrendo a apenas 50 rpm acima (4.650 contra 4.600), com o torque máximo seguindo nas mesmas 2.600 rpm de 1300 e 1500 originais, mas saltando de 9 para 9,7 kgmf, contra os 9,8 do motor de maior cilindrada. Com isso, um 1300 passava a atingir 127 km/h contra os 115 km/h de fábrica, velocidade apenas 1 km/h abaixo do 1500.
Quem quisesse aplicar dupla carburação no Fuscão tinha prometidos um torque pulando para 10,3 kgmf a 2.600 rpm, 58 hp a 4.650 rpm, consumo melhorando para 12 km/l e 131 km/h de velocidade máxima, com 0 a 100 km/h em 19,6 s.
No número 170 da revista Quatro Rodas, de setembro de 1974, com preparações para o hatch Brasília, constatou-se que o veneno mais leve, da Comercial MM, distribuidor oficial do Pumakit e que vendia um kit composto de comando P2 carburação dupla Solex , taxa de compressão elevada para 7,5:1 via rebaixamento de cabeçotes, mais peças balanceadas, também maneirava a sede ao tanque. Isso pode ser explicado não apenas pela taxa mais baixa, mas também ao trabalho que o carburador original de corpo simples montado centralmente tinha para abastecer quatro cilindros que ficavam extremamente distantes. Além disso, a Brasília ganhava números de desempenho dignos para a época: de zero a cem em 14 segundos, com máxima de 150 km/h – bem acima dos 22,3 segundos e 128 km/h do original.
Uma das preocupações do fabricante era a qualidade da instalação, o que originou um manual altamente detalhado e com procedimentos numerados, com textos como “marque com tinta duco ou esmalte de unha os parafusos sextavados (M6) que seguram o capuz (do motor) nas dobradiças. Estas marcas têm a finalidade de posicionar facilmente o capuz nas dobradiças na montagem, mantendo assim o ajuste inicial”, conforme consta na alínea 2 das instruções do kit de carburação dupla Solex 32.
Para 1976, a Puma deu um passo adiante e passou a garantir o motor modificado para 1,9 litro usando suas peças. Essa unidade tinha virabrequim com 78,4 mm de curso, pistões Mahle de 88 mm, dois carburadores Solex 40 ou 40 PII (especificação original da Porsche, que vinha acompanhada de bomba de gasolina Brosol, de maior vazão), cárter seco, molas de válvulas mais duras, válvulas de admissão com 39 mm e de escape com 36 mm, velas Bosch ou NGK de menor grau térmico e a opção de comandos P3 ou P5. Com isso, o limite de giros também subia para algo entre 5.800 e 6.000 rpm para o P3 e 7.000 rpm para o P5, especificações válidas para o par de PII.
Como um fabricante de grande porte da época, havia recomendação de amaciamento, devendo-se evitar marcas acima de 4.500 rpm nos primeiros 3 mil km, que deveriam preferencialmente ser rodados entre 2.500 e o limite estipulado. Também dava para alongar o diferencial, que passava a 3,875:1.
Para lembrar os de fora do poder dentro daqueles cofres, havia um selo com os dizeres Equipado Puma, que com o passar dos anos passou a ser Pumakit Equipado. As peças desenvolvidas por Jorge Lettry tinham por destino original as pistas, mas o sucesso acabou levando-as às ruas. Em uma dessas coincidências, a Volkswagen passaria a adotar de série dois carburadores em sua linha a ar de 1,6 litro não só para ganhar desempenho como também melhorar o consumo em tempos de gasolina cara.
Como soa um motor desses? No vídeo em destaque pode-se ouvir um com cilindrada elevada para 2.017 cm³ e preparação inspirada na daqueles nervosos propulsores do passado. No vídeo abaixo, o Fusca em que ele foi montado.

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